Dicas de leitura para uma boa escrita: parte 2.

Boa noite, para aqueles que preferem viver sob a luz das estrelas, e bom dia para os que despertam com a aurora de Prometeu!

                               Algumas poucas semanas atrás, permiti a arrogância e o atrevimento de sugerir aos distinguidos leitores deste despretensioso blog uma minuta de obras que, com uma modéstia aristotélica, reputo de um valor inestimável para os que desejam aprimorar sua maestria na arte da escrita.

https://www.barrosoecoelho.com.br/blog/nossa-pequena-contribuio-aos-jovens

                               Mantenho, com a mais firme convicção, que a virtude de escrever, no âmbito do foro, é de magnitude equiparável à própria respiração. Nós, meros zeladores das epístolas legais, somos os titãs da linguagem. Não transacionamos direitos, nem justiça, nem códigos para nossos clientes; negociamos linguagem!


                               Sim, caros leitores, é essa a essência de nosso ofício. Proporcionamos a nossos clientes as chaves linguísticas que abrem a intricada porta de um discurso que, para eles, é tão misterioso quanto o oráculo de Delfos.

                               Entretanto, não me refiro a uma panaceia de palavras rebuscadas, ou a arcaicas expressões em latim; estou me referindo, na verdade, à competência que possuímos - ou que deveríamos possuir - de articular textos de persuasão, habilmente orquestrados, capazes de subjugar os magistrados e fazê-los acolher nossas teses como divina revelação.

                           E permitam-me acrescentar, com um toque de orgulho, que aquele que controla a pena também domina a elocução. Ignoro por completo a existência de um orador jurídico magistral que, com sua loquacidade, conquiste plateias, sem, ao menos, um razoável domínio da arte da escrita.

                               Saber escrever é a manifestação de saber transmudar emoções, ideias, impressões e doutrinas em um leque de palavras elegantemente orquestradas.

                               É somente por mérito da escrita que seres humanos, ao contrário dos nossos parentes do mundo animal, conseguem transmitir conhecimento a outros seres humanos dos quais se separam por décadas, séculos e milênios.

                               Na última ocasião, partilhei tratados de índole técnica e teórica, todos eles eruditos compêndios sobre o tema da "escrita". Hoje, minha contribuição assume uma roupagem distinta.

                               Em vez de aludir a tratados que nos conduzam à correta escrita, ousarei oferecer uma seleção de literatura que ostenta uma elegância literária suprema, e nos ensina a escrever textos não somente corretos, mas dotados de beleza estética e, quem sabe, certa poesia.

                               Afinal de contas, beleza é essencial: prefiro ler um texto escrito com beleza sobre a unha encravada do pé do vizinho do que ler um texto mal escrito sobre as mais belas flores de um jardim.

                               A leitura fervorosa e a maestria textual são, quase invariavelmente, companheiras de jornada. Obras literárias exemplarmente concebidas, além de servirem como arquétipos, nos inspiram a tecer cada vez mais requintadas tramas verbais.

                               Se a relação de obras técnicas que apresentei outrora nos guia pelo caminho da precisão textual, a seleção que exponho agora nos instiga a vestir nossos textos com uma roupagem de formosura e sofisticação.

                E poso estar enganado, mas provavelmente não estou: todo mundo prefere ler um texto bonito à ler outro, ainda que de idêntica temática, escrito por indivíduos que não mais confundem quando é que devem escrever “mais” ou “mas”:

 

1 – Ítalo Calvino: Se um Viajante em Uma Noite de Inverno.

2- Humberto Eco: A Ilha do Dia Anterior.

3- Salman Rushdie: Versos Satânicos. 

4- Júlio Cortázar: O Jogo da Amarelinha

5- Juan Carlos Onetti: Vida Breve.

6- Caio Fernando Abreu: Morangos Mofados.

7- José Saramago: O ano da morte de Ricardo Reis.

8- Clarice Lispector: Paixão Segundo G.H. 

9 – Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas.

10 – João Guimarães Rosa: Grande Sertão Veredas.

11 – Jean Paul Sartre: Caminhos da Razão.

12- Albert Camus: O Estrangeiro ou Mito de Sísifo (impossível escolher apenas um dos dois)

13 - Yasumari Kawabata: A Casa das Belas Adormecidas

14 - Garcia Marques: Cem Anos de Solidão.

15 - Tolstoi: Guerra e Paz.

16 - Marcel Proust: Em busca do Tempo Perdido.

17 - John Steinbeck: As vinhas da Ira.

18 – Confissões de uma Máscaras.

19 – Graciliano Ramos: Vidas Secas

20- Gabriel Garcia Narques: Cem Anos de Solidão.

21- Ernest Hemingway – Por Quem os Sinos Dobram.

22- Kurt Vonnegut – Matadouro Cinco

23- Ian McEwan – Expiação.

                               E hoje fico por aqui. Hoje, com quarenta anos de idade, não sou tão formidável inimigo de Morfeu quanto era aos vinte e poucos. O travesseiro me chama, e só o que me resta é atender o seu chamado.